Política Agrícola

A tentativa de submeter a atividade agrícola às necessidades do capital em lugar de deixar que atenda às necessidades humanas, criou uma situação absurda e ao mesmo tempo perigosa. Com a maior parte da população vivendo nas cidades acentuou-se o desprezo pela atividade rural.

Desamparada, a agricultura luta pela sobrevivência, embora dependa dela a sobrevivência humana. O capital mais fantástico, toda riqueza e todo o luxo urbano nunca substituirão os alimentos e a água. Podem até servir de adorno, mas não podem substituí-los.

A agricultura já não é uma profissão, mas uma paixão pela natureza, pela vida verdadeira, pelo nascer, crescer, florir e madurar.

Deveria existir uma política agrária firme e determinada. Mas como esperá-la se os políticos, em sua maioria, nem sabem que existe agricultura? Ela também nunca paga as eleições para ninguém, portanto, não se tem obrigação nenhuma para com ela.

Também é completamente inútil um presidente controlar os preços nos supermercados. Os alimentos não nascem e crescem nas suas prateleiras! Pode, talvez, proteger o consumidor, mas nunca fará justiça ao agricultor. Mas como esperar justiça?

Como se pode esperar uma política agrícola se a população não sabe mais de onde provém os alimentos e se próprio governo federal não sabe que a base de toda economia é a agricultura?

Mas também o agricultor não deve viver na doce ilusão de que todos os seus problemas deveriam ser resolvidos pelo governo e que sua atuação se restringe a ser um exímio malabarista de agrotóxicos. É muito mais importante observar a natureza, dando-lhe a devida atenção e respeito. Mas sem respeitar a Deus é difícil respeitar sua obra-prima, a natureza, e muito menos ainda o próximo, o consumidor, que para o “agricultor” moderno, nada significa.

Passei, certa vez, em um campo em que se colhiam batatinhas graúdas e bonitas. Na verdade, podem ficar assim quando se usa um excesso de nitrogênio e agrotóxicos mas pode faltar cálcio. A grande quantidade de solanina formada arde na garganta. Perguntei ao agricultor: “Estas batatinhas são boas?” Ele me olhou espantado: “Credo! Essas batatinhas não são para comer!” “Mas para que o senhor as plantou então?”- eu queria saber. “Naturalmente para vender” – ele disse, cheio de desprezo por uma pergunta tão estúpida.

Agricultor algum come seus produtos comerciais como verduras, feijão, batatinhas ou morangos. Julga-os muito venenosos. Planta verduras em um cantinho à parte, usando esterco. Essa produção é só para consumo de sua família.

O que acontece com o consumidor não interessa ao “agricultor”, uma vez que foi gente da cidade que o ensinou a plantar assim e que vendeu os venenos. Afinal, não foi ele quem inventou esta tecnologia!!

A grande pergunta que permanece é: se esta agricultura convencional prejudica o agricultor financeira e sanitariamente e se prejudica a saúde do consumidor, por que continuar? Muito simples: porque ela “aquece” a indústria química, a economia. O que existe hoje não é uma política agrícola mas uma política capitalista.

Arrancou-se a agricultura do seu contexto biológico inserindo-a no capitalismo. Assim, para a agricultura se manter, necessita-se de uma política agrícola favorável ao campo e não somente ao consumidor.