Paola e a Seiva de Jatobá
Paola, a segunda filha de Carin, nasceu aos seis meses de gestação, depois de a mãe cair de um banquinho na cozinha de casa. O bebê tinha um quilo e cem gramas, e como era muito prematuro, não pôde receber o leite materno. Além dos cuidados especiais que todo prematuro recebe, Paola teve uma anemia forte no quarto mês de vida, porque não conseguira fazer a reserva de ferro, o que ocorre normalmente nos dois últimos meses da gestação e na época não se dava papa de hemácias a prematuros para suprir a deficiência como é feito hoje.
Ferro é o componente principal das hemácias, e estas funcionam como vagões de trem na corrente sanguínea, levando oxigênio às células, para que sejam feitas as trocas gasosas. Ela tomava ferro na forma de medicamentos, a mãe fazia comida em panela de ferro, mas não adiantava. Com a falta do ferro e consequentemente de oxigenação, Paola foi um bebê que demorou a “vingar”, sentando-se, engatinhando, andando, falando, tudo muito tarde.
Usava a sílaba do meio das palavras: falava “ca” se queria dizer “escada”. Já maiorzinha, enfrentando os desafios escolares, as dificuldades eram notórias e ela não conseguia acompanhar a turma. Não memorizava, não compreendia muitas coisas, distraía-se com facilidade e era lenta, mas sua mãe sempre observava que era uma menina muito inteligente nas brincadeiras, percepções e atitudes.
Acompanhada o tempo todo por médicos, e tendo o pai como um deles, mesmo assim aquela menininha de olhos verdes e cabelos castanhos escuros encaracolados não correspondia ao que se esperava dela.
Ana Primavesi acompanhava a luta da filha e do genro, ambos buscando o desenvolvimento da menina, mas a medicina tradicional não conseguia ajudá-los, e o tempo passava. Por fim Ana disse à filha: “Se ela não está aceitando o ferro é porque está faltando cobalto”. Na natureza, explicou, a proporção de nutrientes é de 500 átomos de ferro para 10 de cobre e 1 de cobalto. Se faltar esse único átomo de cobalto, o cobre não é absorvido, e nem o ferro. Depois temos que suprir a deficiência de zinco, pois ele é o responsável por “descarregar” o gás carbônico, resultado da respiração. Carin, cansada de tantos tratamentos sem êxito, das idas e vindas a inúmeros médicos e hematologistas, e pior, não vendo a filha reagir, resolveu: “vou fazer o que a minha mãe diz”. O marido, também médico, relutou: “mas isso não é cientificamente comprovado”. Outros médicos diziam que aquilo era uma bobagem, nunca tinham ouvido falar sobre essa forma de tratar o problema. Ana rebatia: “para o homem não está provado, mas para a planta está”. Carin persistiu, não só porque acreditava no que sua mãe dizia, mas porque se lembrava das pessoas que sua mãe ajudara por toda a vida, dando aqui e ali receitas da terra e que funcionavam.
O tratamento começou pela busca do cobalto. Ricardo, o pai, já convencido e tocado pelo sofrimento da filha, encontrou-o num medicamento e a anemia cedeu. Depois, na idade escolar, vieram o cobre e o zinco. Além desses nutrientes, Paola tomou vermífugos e suplementações de vitamina B e Ômega 3, para fortalecer o sistema nervoso, e a seiva de jatobá. Essa seiva contém 45 minerais essenciais e era com ela que Ana suplementava os filhos, que não tomavam complexo mineral vitamínico de farmácia. A “adubação” estava feita.
Pouco a pouco, Paola floresceu: a concentração chegou (o que ela jamais tinha tido), a memória funcionava como nunca. A atenção e o foco a permitiam fazer as lições de casa com autonomia e rapidez, e ela finalmente tinha tempo livre para brincar ou se ocupar com outras coisas. Com o adubo certo da avó e o amor e a dedicação da família, principalmente dos pais, Paola frutificou: tornou-se uma médica apta a enfrentar os desafios da vida e da profissão. Hoje, sempre que sente que os estudos não rendem o que poderiam, é com a sua “adubaçãozinha” que se trata. Receita da avó Primavesi: “toda a natureza é igual: a planta, o animal e o ser humano, o princípio é o mesmo.”
(Nota da Autora: No livro Cartilha do Solo, pág.7, Ana fala sobre o papel do cobre e do zinco: “Assim, por exemplo, uma mulher grávida que recebe pouco cobre na alimentação, mas geneticamente necessitaria de mais, vai ter um filho cujo cérebro não se desenvolveu adequadamente e ele poderá nascer paraplégico. Se uma criança recebe menos iodo do que necessitaria, nasce com cretinismo; se é deficiente em manganês, provavelmente será aleijada como também os animais. E ainda, se com sua dieta diária, ela receber menos zinco do que geneticamente é programada, poderá ser mentalmente atrasada e muito ‘parada’. O zinco é o ‘lixeiro’ do sangue (LUKASHI, 1999) e deve descarregar o gás carbônico das hemácias, para que elas possam oxigenar novamente o cérebro. (…) Se um atleta recebe zinco, não se cansa tão rápido. Tudo isso é genético, porque a quantidade de minerais de que a pessoa necessita é aqui codificada, e, normalmente, comum à família.)
(Trecho da biografia de Primavesi: “Ana Maria Primavesi: Histórias de Vida e Agroecologia – Editora Expressão Popular”.
Explicação – Seiva de Jatobá
Encontrar a seiva de jatobá nos dias de hoje é bem difícil. Ana Primavesi conta que a adquiria e a dava por meses aos filhos. Uma colher de sopa, 10 a 15 minutos antes das refeições. Mas seiva de jatobá não é a mesma coisa que tintura ou extrato alcoólico da casca, não contém os mesmos nutrientes existentes na seiva.
A seiva verdadeira tem cor de vinho e tem gosto de madeira, um pouco adocicado.
A coleta da seiva é um processo delicado. Primeiro, pede-se licença à árvore. Sem seu consentimento, ela não libera a seiva. Depois, com uma broquinha, faz-se um furinho no seu caule, com muito cuidado. Preferencialmente na lua cheia (quando a seiva está mais concentrada) e não se pode recolher demais para não matar a árvore. Ao finalizar fecha-se o buraquinho com uma cera natural.
Ao ceder sua seiva, devemos entender que o jatobá generosamente doa uma parte importante de si; e precisamos agradecê-lo.
A seiva de jatobá, como foi explicado acima, contém 45 minerais. O ideal é tomar um vermífugo primeiro e depois tomar a seiva, pois os vermes proliferam em um organismo deficiente de nutrientes. Limpo de vermes, fortalece-se o organismo com os nutrientes.