Observar, observar, observar

Naturalmente todo mundo vai perguntar: e o que faremos para ter uma agricultura mais lucrativa, mais sadia e menos arriscada? Porque hoje em dia, cada um se debate desesperadamente contra as ervas invasoras, contra todos esses sintomas que nós presenciamos e o lucro finalmente se vai porque se o agricultor está pendurado no financiamento, mostra que ele não tem lucro suficiente para financiar sua própria produção. Com exceção de algumas culturas que, naturalmente, dão lucro.

Mas o lucro, normalmente, fica com o beneficiador e não com o agricultor. Agricultura não é só um assunto de amor à terra, mas isto é básico, porque se nós não gostamos da terra, nós não vamos cuidá-la. A observação principal é que eu não posso dar receita para ninguém porque cada um tem de observar o que necessita.

Quero contar um episódio. Eu estive numa fazenda bastante grande em Goiás e um homem me disse: aqui não cresce mais nada. Eu plantei capim de toda a espécie: braquiária, estrela, colonião, não dá mais. Não sei o que faço.

Depois me perguntou quanto tempo vai demorar para a senhora me dar alguma informação concreta de como vou fazer? Eu disse: olha, como a fazenda tem uns 20 mil alqueires, acho que uma semana vai demorar. O quê? – ele falou. Uma semana? O pessoal de Piracicaba, de Campinas, de Goiás esteve aqui e em meio dia eles fizeram isso. Perguntei: bom, mas e o resultado? Ah, o resultado não tinha, ele falou. Bom, eu posso pegar um teco-teco, voar por cima durante meio dia e depois dizer que aqui tem erosão ou que aqui não cresce nada. Mas isso não ajuda em nada. Então eu disse que queria ver o que ele estava observando.

Ele foi comigo. Nós andamos um pouco de jipe. Entramos no campo. Fomos ver a terra, a vegetação e tudo. Nada é pequeno demais para não ser observado. Eu mostrei ao homem todos esses detalhes e no fim do dia ele disse: eu acho que nós vamos levar, no mínimo, duas semanas aqui, porque senão não dá pra ver tudo e para resolver todos os problemas. De modo que vocês veem que a maioria não sabe observar.

A observação é básica. Vocês não podem procurar coisas grandes, defeitos grandes, uma voçoroca enorme de erosão. Não é isso que a gente procura. A gente tem de procurar as mil e uma pequeninas coisas que acontecem quando a gente anda sobre o campo, e isso só à pé, só assim mesmo é que se pode ver. É o amor à terra.