O vírus nas plantas e seu combate

O tão misterioso e tão falado vírus não é um patógeno vegetal, mas apenas uma deficiência mineral, o que foi provado em dezenas de milhares de estudos e experiências coroadas de sucesso. Ainda existem diversas doenças atribuídas a vírus, não apuradas até hoje, mas os estudos prosseguem e com certeza se descobrirá que também são provenientes de alguma deficiência vegetal.

Admito que muitas das chamadas “doenças de vírus” sejam devidas a uma deficiência de elementos raros ou mesmo raríssimos, mas as mais frequentes delas são, para a vergonha nossa, causadas por deficiências de elementos principais, como por exemplo o potássio e o cálcio. Será possível? Respondo que sim.

Mas para a desculpa dos agricultores e agrônomos deve-se dizer que, a respeito do fato, a culpa maior tem de ser atribuída ao resultado enganador dos exames químicos da terra. Tive uma divergência como mais famoso químico do solo em nosso país porque declarei que a falta de magnésio provoca sérios distúrbios na cultura da cana. O químico repetia sempre que no Brasil não existe terra em que falte magnésio segundo revelam as análises químicas do solo.

Admito também que o magnésio não falta no exame químico, na verdade é deficiente porque as plantas não podem aproveitá-lo. Não plantamos tubos de ensaio, mas vegetais! Por isso é para mim motivo de grande satisfação que o famoso professor Dr. Lucien Kehren, da Universidade de Paris, esteja propagando, inclusive no Brasil, que o diagnóstico da folha é o único capaz de informar convenientemente sobre as deficiências do solo em minerais “aproveitáveis” para as culturas.

“O solo é suporte!” afirmou, faz poucos anos, um político. Se o solo fosse somente um suporte, os correligionários da química absoluta teriam razão. Contudo, o solo é um ente vivo, vivo como eu ou o prezado leitor.

“O vírus é transmissível!” Sim senhor, parece perfeitamente transmissível, porque nunca se levou em conta o fato de que todas as plantas de uma cultura se encontrarem no mesmo solo, sofrendo por isso as mesmas carências. O que faltava a uma planta tinha que faltar também às outras.

Mas por que umas plantas demonstram a ação do suposto vírus e outras não? Se o vírus é deficiência, todas devem apresentar da mesma forma os mesmos sintomas. Isso é o que parece ao leigo, mas como o metabolismo das plantas não é igual, também os sintomas diferem. Para demonstrar melhor a reação diferente de plantas da mesma família, vamos tomar, por exemplo, três exemplares de pessegueiros e plantá-los num solo deficiente em potássio, magnésio e cálcio.

Verifica-se então que um dos pessegueiros apresenta carência em potássio, outro deficiência em magnésio enquanto que o terceiro, por muito tempo, não mostra deficiência nenhuma, mas apresenta depois a deficiência em potássio. Adubado então com potássio o trecho de terra onde estão, todos os três apresentarão uma carência pronunciada em magnésio ou cálcio. Por quê?

Porque não há no mundo dois seres que se comportam de modo perfeitamente igual. Em consequência disso, a questão das deficiências é muito mais complexa do que a maioria supõe.

Podemos afirmar que a crença de que as plantas só são acometidas pela suposta doença de vírus depois, por exemplo, de se esfregarem suas folhas com folhas ou estratos de plantas doentes, não passa de mera imaginação, pois as plantas que vegetam na mesma terra terão a maior probabilidade de apresentar, um dia, mais cedo ou mais tarde, os mesmos sinais da mesma carência.

A carência se manifesta nas plantas perenes muito mais cedo do que nas plantas anuais, pois as plantas perenes já se acham enfolhadas enquanto o arroz e as batatinhas ainda estão sendo plantadas. Daí ter surgido a crença de que insetos são transmissores. Há insetos que passam duma planta para outra, mas nada têm eles a ver com a transmissão do vírus, pois com ou sem insetos, a carência tem que aparecer nas plantas de culturas anuais, mas tem de aparecer, contudo, por tratar-se de plantas que vivem no mesmo solo, onde existe a mesma carência.

Porque complicar o assunto, quando tudo é tão fácil? No mundo das plantas não há nada de complicado. Tudo se passa em prefeita ordem, segundo leis naturais inalteráveis e sem exceção. Conhecendo as leis físicas, podemos servir-nos delas; familiarizados com as leis químicas, podemos operar com elas; mas na agricultura ninguém achava necessário procurar as leis que, no entanto, existem, tenhamos ou não consciência delas. Leis tão válidas e de tão inalterável rigor como as da física ou química.

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