Nossos melhores informantes

De que maneira o agricultor sabe qual é a tecnologia que deve utilizar? Como gastar pouco e obter uma boa colheita? Muitos agricultores continuam trabalhando da forma como os avós ensinaram a seus pais, outros observam e adotam as práticas do vizinho ou seguem as indicações dos extensionistas.

Às vezes as colheitas melhoram e às vezes diminuem. Alguns dizem que necessitariam fazer análises de solos e talvez das folhas, porém o agricultor não tem dinheiro para isso e as análises demoram muito. Então, não há possibilidade de que o pequeno produtor melhore sua renda? Há sim, mas não quando ele consulta pessoas. Ele deve perguntar ao solo, às plantas e às ervas daninhas. As plantas são o que é a raiz e a raiz é o que o solo mostra.

Como se sabe quando o solo é bom, sadio e produtivo? O primeiro passo é cheirar o solo. O cheiro fresco no solo é importante; significa que tem os microrganismos certos. Se o solo tem cheiro de fungo, o solo está fraco e precisa de melhor manejo da matéria orgânica. Se há cheiro de pântano ou de gás metano, é porque a matéria orgânica foi revirada muito profundamente até uma camada na qual não há mais oxigênio, o que prejudica as culturas. E se não há cheiro nenhum é porque o solo está morto, sem vida e produz pouco.

Também a cor do solo é importante. Um solo escuro contém suficiente matéria orgânica. Porém, há casos em que o solo úmido é escuro e quando está seco é esbranquiçado. Se o solo não tem uma cor uniforme e tem pequenas manchas escuras, claras e até azuladas, significa que a drenagem é muito deficiente. O agricultor não pode saber exatamente o conteúdo da matéria orgânica, porém pode saber se está aplicando a quantidade certa para as culturas.

Se ele tira um torrão e o rompe com as mãos e se formam grumos, o solo é excelente. Quando o solo se rompe em partes irregulares ainda é um solo bom, porém deve cuidar-se muito o retorno da matéria orgânica. Se o solo se rompe em formas lisas está muito compactado e é pouco favorável para o cultivo. Se o solo se rompe em forma de lâminas este tem que ser recuperado antes de se semear qualquer cultura.

As raízes pivotantes de algumas plantas como soja, feijão, tomate, nabo e outras, devem ser retas, sem curvas, sem bifurcações, não devem diminuir bruscamente de diâmetro nem penetrar paralelamente à camada do solo.

As raízes fasciculadas do milho, trigo, aveia ou arroz têm que ser abundantes e de um comprimento de até 25 a 30 cm. A melhor informante das condições da planta é a raiz, ela pode revelar-nos muitos segredos.

É importante conhecer o teor de nutrientes do solo. E as próprias plantas o indicam. Deve-se “apenas” compreender sua linguagem. Por exemplo:

– se o broto se desenvolve menos do que as folhas e os galhos vizinhos é porque está faltando boro;

– se as folhas estão deformadas e enrugadas, falta cálcio;

– se tem folhas gigantes, falta cobre;

– se as folhas mais velhas estão amarelas com nervuras verdes, falta magnésio
– se morrem as pontas e as bordas das folhas mais velhas, falta potássio;
-se morrem as pontas das folhas e o tecido morto avança no comprimento da nervura principal formando um V é falta de nitrogênio.”

A agricultura tradicional se desenvolveu graças a observação da natureza. O solo, as raízes e as plantas daninhas tem sido sempre os nossos melhores informantes.

In: Revista de Agricultura Biodinâmica. Ano 16, n.82. Outubro de 1999. pág 24 e 25.