Deficiências minerais mais comuns no gado devido às pastagens pobres

– Fósforo

É uma das mais comuns no Sul devido à pobreza dos solos neste mineral. Muitas vezes a pobreza se prende à elevada acidez dos solos, onde o fósforo existe mas está ligado ao alumínio e ferro e não pode ser aproveitado pelas plantas. De modo que uma calagem quase sempre deve preceder à adubação fosfatada.

Na deficiência de fósforo os animais mostram aberração de apetite. Comem roupa, roem pedras, madeiras e lambem terra na tentativa desesperada de abastecerem-se com fósforo que lhes falta.

Os animais não se desenvolvem, são magros, o pelo é arrepiado, sem brilho e o cio é muito irregular. Geralmente os animais procriam somente de 2 em 2 anos e às vezes, nem isso. A produção de leite é pouca e facilmente há febre de leite. Os animais têm o andar “atado” por ter juntas rígidas. Geralmente a deficiência de fósforo está ligada com a de cálcio, dando lugar à confusão entre a natureza das duas carências, porém não podendo ser alcançada a cura pela administração de cal, mesmo se os sintomas são de raquitismo.

– Cálcio

É mais raro em animais de pastagem nativa (exceto aqueles que pastam em solos muito ácidos, como em Arroio do Só no município de Santa Maria), porque recebem bastante sol. É muito mais frequente em animais estabulados, onde ataca especialmente o gado leiteiro, que perde, diariamente, em cada litro de leite, 2,2 g de cálcio. Numa produção de 10 litros perde consequentemente 22 g de cálcio. Este cálcio deve ser reposto, do contrário, a vaca retira-o de sua própria ossatura. Sobrevém, pois, uma descalcificação do animal, dando como resultado a tão conhecida osteomalácia. Fraturas de ossos tornam-se comuns. Mas não somente em animais descalcificados pela falta de cálcio os ossos quebram com facilidade Também a deficiência de cobre, manganês e vanádio ocasiona fraturas frequentes, pela deficiente calcificação do esqueleto mesmo em presença de suficiente cálcio. Também o “mal da guampa” é bem conhecido em animais deficientes em cálcio. Os animais novos, criados com deficiência de cálcio, são raquíticos. É frequente em suínos criado em chiqueiros ou pocilgas fechadas;. Cura-se esta deficiência com vitamina D e administração de farinha de ossos. Não vale a pena criar animais novos raquíticos porque nunca mais se recuperarão completamente, apesar de poderem se reproduzir.

É também frequente em animais prenhas ou vacas leiteiras quando pastam exclusivamente em aveia ou azevém, visto que estas forrageiras, especialmente quando adubadas com sulfato de amônio, são fortemente descalcificantes. Produz-se uma hipocalcemia forte. Os animais sofrem de diarreia e convulsões tetânicas. Caem ao chão, mas levantam-se como por milagre após uma injeção de cálcio. A primeira medida aqui é trocar de invernada.

– Magnésio

Pode ser facilmente encontrada em solos arenosos, especialmente após a cultura de trigo e a adubação com NPK. Confunde-se facilmente com a deficiência de fósforo, uma vez que, em presença de magnésio, a planta forma enzimas que ajudam o animal a metabolizar o fósforo. A falta de magnésio provoca as vertigens do pasto, também chamadas de “tetania do pasto”. O gado torna-se extremamente nervoso, assustando-se à toa e disparando por razões insignificantes. Em casos graves, apresentam convulsões tetânicas de que morrem. Em muitos casos, sobrevém a cegueira.

– Potássio

Ocorre com facilidade em solos arenosos e úmidos, especialmente quando coexiste a deficiência de cálcio, o que impede o aproveitamento de potássio pelas plantas.

O primeiro sinal dessa carência é sempre um crescimento retardado. Os animais aproveitam mal a forragem e a maturidade sexual é retardada. Em tais zonas os cães novos sofrem frequentemente de rigidez das pernas, o que pode levar à paralisia. Os animais adultos tornam-se ativos, irrequietos, e como a falta de fósforo, apresentam apetite estranho. Geralmente não procriam com facilidade, podendo inclusive as fêmeas tornarem-se inférteis.

– Cobre

Raramente se dá em solos graníticos ou formados sobre Gnaisse, mas facilmente aparece em solos basálticos, especialmente quando existe água estagnada. Solos úmidos geralmente são pobres nesse mineral.

Os animais que mais sofrem são os ovinos. A lã se torna grosseira e perde sua elasticidade. Em casos graves, devido às deformações cerebrais em ovinos novos, os animais perdem a coordenação do membro posterior. Nos bovinos não há sintomas especiais a não ser a fácil contaminação dos animais pelas doenças infecciosas, inclusive aftosa. Todos os animais deficientes em cobre, cobalto e ferro sofrem com facilidade de forte verminose. Ficou evidenciado que em pastagens cujos minerais são equilibrados a incidência de vermes no animal é muito menor que em pastagens deficientes, onde a anemia, provocada pela deficiência mineral, cria um ambiente propício à verminose, a qual, por sua vez, aprofunda a anemia do animal – 1 kg de sulfato de cobre, 25 kg de óxido de ferro e 50 g de cobalto por cada 100 kg de sal são muito eficientes.

– Cobalto

É facilmente encontrada em ruminantes, isto é, em bovinos e ovinos e, de modo especial, mais frequente nos últimos, porém é problema regional e não geral.

Os terneiros ficam com o pelo arrepiado e sem brilho, mostram-se tristes, demonstrando todo o sinal de fome prolongada. É geralmente acompanhada de violenta verminose. Nos ovinos falta o apetite e o depauperamento é grande. Mostram infertilidade parcial. A lã é escassa, curta e fraca, não alcançando o preço. As ovelhas são muito débeis ao nascer e muitas morrem antes de atingir o peso necessário para entrarem em reprodução. Os animais deficientes comem pelos e roem as cascas das árvores. A verminose é muito intensa  e de difícil combate. Cura-se a deficiência pela adição de 25 g de carbonato de cobalto por 100 kg de sal.

A pergunta é: quando é que surge a deficiência? Quando o solo é deficiente? Quando o animal sofre as consequências da falta de um ou de outro mineral?

Em solos arenosos e úmidos, as deficiências geralmente são reais. Nestas condições, via de regra, a pobreza existe de fato e  não há outra alternativa senão adubar com o elemento carente quando de 3 a 5% do rebanho mostram os sinais da falta de um mineral, porque os outros, apesar de não mostrarem ainda sintomas, também já estão prejudicados pela deficiência em causa.

Em solos argilosos a carência geralmente é imposta pelo mau arejamento do solo e pelo deficiente desenvolvimento das raízes. As pastagens permanentes que conseguem formar raízes abundantes somente até 3 cm de profundidade exploram quase que exclusivamente a camada superficial, isto é, a camada mais levada e mais judiada do solo e, em consequência, as plantas são deficientes por falta de manejo adequado do pastejo.

Acontece que a deficiência surge, também, devido a um desequilíbrio em relação a outros minerais. Assim, por exemplo, a relação de cálcio/fósforo deve ser de 2:1 ou no mínimo 3:1 na planta. Se é maior, o animal sente a deficiência. A relação de cálcio/potássio deve ser de, no mínimo, 6:1 no solo, para que a planta possa absorver e utilizar o potássio. Assim sendo, um nível baixo de cálcio pode provocar a deficiência de potássio.

Assim, a eliminação da deficiência nem sempre pode ser feita pela simples adubação das pastagens, baseada nestes sintomas, mas somente após exames químicos e biofísicos do solo e da vegetação, os quais determinam a causa da falta de um ou outro mineral no metabolismo das forrageiras e finalmente no metabolismo do animal.