Biodiversidade

O homem, considerando-se a “coroa da criação”, acredita que tudo no mundo existe somente para servi-lo. Por isso começou a dividir tudo o que existe em “benéfico” ou “maléfico”. Assim, tem animais que o servem e outros que ele considera de rapina ou predadores. Tem micróbios que são úteis, como as leveduras para produzir pão, cerveja, álcool ou os antibióticos; e outros que considera patógenos e pestes.

De fato, na natureza existem opostos: como vida e morte, dia e noite, sol e chuva, quente e frio, amor e ódio, gene e antigene… mas isso não é para criar o mal, para contrariar o bom, mas simplesmente para equilibrar. Como podemos nos alegrar com o dia se não conhecemos a noite? Ou gostar de sol se nunca houvesse chuva? Como iriam saber o que é belo se não conhecemos o feio? E até a deusa da justiça se apresenta com uma balança na mão para medir exatamente partes iguais para os dois opostos.

Com nossa ciência analítica-temática, dividimos tudo em fatores e frações de fatores. E como isolamos os fatores do conjunto parece que podemos modificá-los ou, como acreditamos: melhorá-los ou substituí-los por algo que mais nos convém… Mas quanto mais “melhoramos” mais “imprevistos” acontecem e tanto mais problemas surgem. Não aparecem como castigo mandado do céu como as enchentes e secas, as pragas, doenças e enfermidades humanas, mas como consequência das modificações feitas. E quanto mais refinada a tecnologia para controlar as adversidades, tanto mais problemas surgem.

Porém, quando não dividimos o mundo em fatores isolados, independentes uns dos outros e seguimos a ciência holística-sistêmica observando os sistemas naturais (falamos de ecossistemas) e seu funcionamento, tudo muda.

Ao observarmos as cadeias alimentares os seres vivos se interligam e verifica-se que na natureza não existe lixo. Tudo que um refuga, outro usa como base vital. Já é um sucesso, porque assim verificamos também que o único ser que produz lixo e até em grande quantidade, é o homem. Todos os outros se complementam de tal maneira que nunca sobra nada e o produto final é o mesmo que o inicial e do qual se formou toda matéria orgânica das plantas: energia, água e gás carbônico, liberando os minerais embutidos.

A energia que as plantas captam da luz solar e que transformam com ajuda de água e gás carbônico em matéria orgânica, que depois cresce e forma as substâncias mais diversas das quais vivem os animais e o homem, percorre os meandros de uma “teia trófica” ( trófico quer dizer alimentar), chegando finalmente ao ponto de partida – sendo liberada outra vez como energia, desta vez como calor.

Os animais produzem fezes e outros a utilizam. Assim, por exemplo, nas fezes do gado aparece o besouro rola bosta, que as degrada até virar terra outra vez. Na África ele é chamado de “lixeiro sagrado”, pois rola o esterco (por ex dos elefantes) até formar uma bolinha de até 5 cm de diâmetro que é muito maior do que ele, levando-a até sua toca. Para nós, ele simplesmente puxa a bosta para dentro de seu buraco, jogando muita terra para fora. Se existir rola bosta sabe-se que o gado não recebeu nenhum veneno injetado como o contra vermes. Se o recebeu, o rola bosta morre e o que aparece é a mosca do chifre que cria suas larvas no esterco e depois ataca o gado.
Cada vez que nós, por medida que nos parece favorável, interrompemos um curso natural, provocamos um problema que necessita de de outro combate e aí para frente.

Na natureza nada é estático e sim em atividade permanente. Cada fator depende dos outros que o precedem ou seguem, e conforme estes se modificam.

Concluímos que a natureza funciona em sistemas, sendo comparáveis a uma máquina que somente funciona quando todas as peças estão adaptadas umas às outras em sincronização perfeita. Se uma peça é modificada ou se modifica apenas um pouco (por desgaste, por exemplo), a máquina para. E mesmo assim modificamos permanentemente “peças” dos ecossistemas no intuito de “melhorá-las” para que sejam mais produtivas economicamente. Não percebemos que todos os problemas que surgem foram criados por nós mesmos, e que não é econômico modificar fatores de um ecossistema.