Albert Howard

Londres, 1943

Sir Albert Howard,

Ex-Diretor do Instituto de Plantas Industriais Indore e Conselheiro Agrícola para os Estados da Índia Central e  Rajputana, escreveu “UM TESTAMENTO AGRÍCOLA”.

Este foi um dentre muitos autores que ensinaram à Ana Maria Primavesi sobre solos, como por exemplo J. Gorbing, F. Sekera e outros professores eminentes.

Selecionamos alguns trechos do livro de Howard que mostram sua influência sobre o trabalho de Primavesi.

… Há outros desenvolvimentos que devem ser mencionados brevemente. Durante a I Guerra Mundial as fábricas, então engajadas na fixação do nitrogênio atmosférico para a fabricação de uma grande quantidade de explosivos necessários para defender e destruir soldados bem entrincheirados, tiveram que encontrar novos mercados. Isso foi resolvido com a venda de fertilizantes para os campos que haviam sofrido um esgotamento durante os cultivos excessivos realizados no período da guerra. A demanda foi criada pelos baixos preços que permitiam que a unidade de nitrogênio fosse colocada no mercado, assim como pela qualidade do produto. O fósforo (P) e o potássio (K) também entram nas combinações. Misturas, das mais engenhosas, foram realizadas com os adubos artificiais contendo tudo o que se supunha que as plantas necessitariam. Esses adubos podiam ser encontrados em todo o mundo. As vendas aumentaram rapidamente, a maioria dos fazendeiros e agricultores passou a basear seus sistemas de adubação nas formas mais baratas de nitrogênio, fósforo e potássio. Durante os últimos 20 anos, os progressos na indústria de adubos artificiais foi realmente fenomenal. Chegamos à era do saco de adubo, e a teoria de Liebig, retorna com toda a força.

… Não há dúvida de  que os trabalhos das estações experimentais, no que toca às pragas e às doenças, constituem um gigantesco e dispendioso fracasso. Seguir com esse sistema não se resolverá os problemas de forma satisfatória… A causa do fracasso não é difícil de ser localizada. Os pesquisadores tornaram-se especialistas. Os problemas causados por parasitas não vêm sendo estudados  como um todo, mas têm sido divorciados na prática, departamentalizados, segmentados e confinados a especialistas naquele fragmento da ciência, que estuda os organismos associados com essa ou aquela enfermidade. A abordagem do tipo especializada está fadada ao fracasso. Isso é óbvio quando se considera: 1. Primeiro, a verdadeira questão que consiste em produzir culturas e animais sadios, livres de parasitas. 2. A natureza da doença, que nada mais é do que a quebra de um sistema biológico complexo, que também compreende o solo em sua relação com as plantas e os animais.

… Eu mesmo obtive resultados que confirmam quão importante é o húmus no auxílio às culturas que formam essa simbiose para impedir as doenças…O significado disso tudo é muito claro, ou seja, a natureza fornece às plantas uma engenhosa maquinaria para conferir-lhe resistência. Essa maquinaria funciona somente num ciclo rico em húmus, não é ativa em solos inférteis ou em solos adubados com adubos químicos. O combustível necessário para manter essa maquinaria em ação é um bom suprimento de húmus  recém e apropriadamente preparado. Assim tratados, os solos férteis produzirão culturas altamente resistentes. Solos desgastados, mesmo quando estimulados por adubos artificiais, produzirão culturas que necessitarão da proteção de inseticidas e fungicidas para produzir colheitas a contento. De maneira geral, é essa a questão.

… Fungos e insetos não são a verdadeira causa das doenças e dos ataques às culturas, mas apenas atacam variedades não adaptadas ou culturas cultivadas de forma inadequada. Seu verdadeiro papel é o de indicadores, mostrando que as plantas são impropriamente nutridas e com isso mantém nossa agricultura em bom nível.

…A mãe terra dispõe de uma vasta gama de artifícios para marcar as culturas ineficientes. Quando o solo é infértil, quando se pretende cultivar uma variedade inadequada, ou quando algum erro foi cometido no manejo do cultivo, a natureza registra imediatamente sua desaprovação através de seu Departamento de Censura, que é constituído por um ou mais grupos de parasitas, insetos ou fungos – organismos que vivem em corpos vivos malsãos – e assinalam o fracasso do cultivo. Na linguagem convencional de hoje, as culturas são atacadas por pragas e doenças. Para o especialista, é o caso de controlar a enfermidade ou então, a planta precisa ser protegida.

E, por fim, em seu “Testamento”, a visão de um futuro:

..A área das fazendas tende a aumentar. Há uma grande variação no tamanho das explorações agrícolas do Ocidente, desde as pequenas unidades familiares da França e Suíça, 1as fazendas coletivas imensas da Rússia e os espaçosos ranchos dos Estados Unidos e fazendas da Argentina. Concomitantemente a esse crescimento no tamanho da propriedade está a diminuição do número de homens por milha quadrada.

… A monocultura é a regra. Em quase toda parte, o plantio de culturas é singular. Exceto em campos temporários, o consórcio de culturas é raro. Nas ricas pradarias da América do Norte as rotações de culturas são desconhecidas: o cultivo de trigo segue-se ano após ano, sem nenhuma tentativa de converter a palha em húmus por meio da urina ou do esterco do gado. A palha é uma praga que se queima anualmente.

… A máquina está rapidamente substituindo os animais. O aumento da mecanização é uma das principais características da agricultura ocidental. Toda vez que uma máquina é inventada para reduzir o trabalho humano ou animal, sua difusão é rápida. Máquinas e motores de várias espécies é a regra em todos os locais. A eletrificação na agricultura está começando. A marcha inevitável das colheitadeiras combinadas em várias regiões do mundo é um dos exemplos mais recentes da mecanização da agricultura ocidental.