A Agricultura Orgânica e a Agroecologia – diferentes enfoques

Já diziam os índios bolivianos: Somos feitos de Sol (energia), Chuva (água) e Terra (minerais). Vocês alteraram a luz (pela poluição do ar), alteraram a água (as chuvas e estão extinguindo os rios), destruíram a terra (pela aração profunda, suas máquinas pesadas, os adubos químicos, herbicidas, pesticidas e fogo), mudaram as plantas (geneticamente) . E agora. O que será de nós? (Agruco, 1998)

E apesar de todo o “progresso” tecnológico e o esplendor das cidades, a vida humana continua dependendo do solo, isto é, das plantas que nele crescem e da água que por ele se deve infiltrar, para depois nascer em forma de fontes, formando os rios. Mas os solos estão compactados, em parte desertificando, muitos rios estão secos e os famintos e doentes aumentaram.

A saúde humana depende do qualidade dos alimentos – de seu valor biológico – ou seja, de sua possibilidade de formar todas as substâncias a que são capazes geneticamente. E para isso as plantas necessitam, no mínimo, de 45 minerais. A nutrição boa das plantas depende, por sua vez, da mobilização dos nutrientes pela vida do solo e esta depende da quantidade e diversidade da matéria orgânica fornecida, quer dizer, da biodiversidade vegetal, do arejamento do solo e de sua temperatura (acima de 32 graus C as plantas não absorvem mais água), do desenvolvimento das raízes e da presença de boro para garantir o potencial de absorção destas.

Enquanto a agricultura orgânica trocou fatores químicos por orgânicos ou menos tóxicos e continua trabalhando com fatores e combatendo sintomas num sistema temático-analítico, a agroecologia trabalha com sistemas e ciclos de maneira holística-sistêmica e procura eliminar as causas dos problemas e não somente combater os sintomas que voltam enquanto os problemas perduram. Nenhum processo pode ser isolado do outro, tudo é dependente e interdependente.

“Eco” vem da palavra grega “oikus” que significa casa, lugar, e quer dizer que cada lugar tem seu sistema e seus ciclos sendo fundamentalmente diferente dos outros. Portanto, “Agro- Ecologia” significa uma agricultura dentro dos contextos dos sistemas naturais.

Clima e solos tropicais são completamente diferentes do clima temperado Assim, no clima temperado os solos são ricos, rasos, neutros e frios. Em clima tropical são pobres, profundos, ácidos e quentes. Isso não significa que são piores por serem muito mais intemperizados de que os solos temperados, mas que são exatamente o que se necessita em condições tropicais. Prova disso são as matas tropicais, que produzem em 18 anos a mesma biomassa que as de clima temperado produzem em 100 anos. Mas quando o homem começa trabalhar a terra, toda a exuberância some como por um passe de mágica porque ele usa a tecnologia de clima temperado para os solos tropicais.

No ciclo da vida, a planta retira água e nutrientes do solo e o cobre com matéria orgânica para protegê-lo e para nutrir a vida do solo. Quanto maior a biodiversidade vegetal, mais diversificada será a vida do solo, maior será a mobilização de nutrientes e melhor a planta será nutrida.

A micro vida agrega o solo para possibilitar a entrada de ar e água, mobiliza nutrientes, defendo o espaço radicular das plantas e se controla mutuamente. Cada fator depende e influi sobre os outros de modo que não podem ser separados. e somente podem ser entendidos quando visto como ciclos e sistemas.

A agricultura deve continuar trabalhando com ecossistemas, embora simplificados. A nutrição das plantas não termina com o oferecimento dos nutrientes no solo através da adubação e da mobilização por microrganismos. A análise química mostra todos os nutrientes disponíveis no solo até uma profundidade de 20 cm, mas podem estar inacessíveis para a planta devido à compactação pronunciada do solo. A análise do solo tem sentido prático quando tirado somente da parte enraizada e se esta é calibrada para determinado solo e variedade vegetal.