Manejo Ecológico do Solo -
o livro que revolucionou a agricultura tropical

Ana vinha escrevendo seu livro Manejo Ecológico do Solo desde que deixara Santa Maria e viera morar em São Paulo. Juntou livros, rascunhos e palestras recuperadas, além de toda sua experiência pessoal e de pesquisa. A ideia era fazer com que estudantes e interessados em agricultura entendessem os conceitos e processos naturais, a fisiologia das plantas em solos tropicais, a biologia e a microbiologia do solo, de forma a integrar os processos e dinâmicas que envolviam a vida do solo.

Capa antiga
Capa nova edição 2021

 “Nunca tinha havido um livro que tratava solo, plantas, adubação, produção, junto com a biologia e a microbiologia do solo, nessa época quase ignoradas, a não ser por algumas bactérias fixadoras de nitrogênio com que a Dra. Johanna Döbereiner trabalhava. E nunca ninguém tinha ouvido falar de bio-estrutura”, explica Ana. Sua visão da natureza enfatizava a conexão dos processos físicos, químicos e biológicos, numa dinâmica ecológica muito diferente do que se ensinava nas universidades, que preconizavam o uso intensivo de insumos, adubos minerais e tecnologias que davam prioridade à produção, não ao processo, que é a dinâmica entre os sistemas. 

Ao mesmo tempo que despertou a paixão pela agricultura orgânica, Ana também despertou inimizades. Os ataques começaram na própria Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, a ESALQ. Publicado no Jornal do Engenheiro Agrônomo, em maio de 1981, a resenha crítica do livro feita por Luiz Demattê fugiu do padrão de tamanho exigido para publicação naquele jornal (foram 19 as laudas originais, que ocuparam 8 páginas completas do jornal). Mesmo assim, foi publicada na íntegra, “dada a relevância do tema e a proximidade do III Congresso Paulista de Agronomia, onde certamente o assunto será debatido”, conforme lia-se no jornal.

Dezenove laudas de crítica minuciosa, citando pontos de discordância página por página, e que, no final, concluía que: “…o objetivo principal perseguido pela autora, ou seja, o manejo ecológico do solo, infelizmente não foi atingido, e muito menos o manejo dos solos tropicais. Talvez no anseio de poder apresentar o mais breve possível algo inédito na Pedologia brasileira, a autora e mesmo a própria editora, falharam numa revisão mais rigorosa e profunda do conteúdo.” 

Com a crítica do Professor em mãos, podemos ver que Ana ticou cada parte relatada, e em algumas delas fez comentários no referido texto, o que pode tê-la norteado na resposta que ocupou apenas três páginas, no texto intitulado: “A insuficiência da abordagem analítica”, aqui copiado:

Em sua defesa, Valdir Izidoro Silveira, engenheiro agrônomo, jornalista e especialista em biologia de solo pela Universidade Federal do Paraná, UFPR, publicou em agosto do mesmo ano um artigo no qual defendia a importância da obra: “O livro de Ana Maria Primavesi é um trabalho tão sério que seu crítico não conseguiu sequer apresentar propostas concretas para uma revisão das questões formuladas pela autora”. E prosseguia: “…dizer que o livro não apresenta como fazer o manejo ecológico dos solos tropicais chega a ser uma heresia”. Izidoro, em sua análise, ressaltou a intenção audaciosa e absolutamente verdadeira da autora ao escrever: “O que choca a análise acadêmico-estática, é a visão global dos problemas – enfoque básico do livro da Professora Primavesi – visão esta que esmiúça todas as implicações intrínsecas e extrínsecas e que busca soluções integradas e apropriadas caso a caso e não medidas sintomáticas e casuísticas como propunham os acadêmicos metafísicos.” 

A guerra estava declarada. De um lado, os que a defendiam. De outro, os que diziam “ela se vale de bibliografia europeia para justificar a diferenciação entre solos temperados e tropicais, o que por si só já é uma incoerência”, entre muitos outros ataques, e tentavam desqualificar a obra, no que Ana não se abalou. “Tenho certeza absoluta do que estou falando. Acontece que fora do Brasil existem muitas regiões tropicais e subtropicais e a literatura internacional sobre agricultura tropical já é muito volumosa.”

Crítica ao livro

Resposta de Ana Maria Primavesi:

Original

Publicação no jornal

Em defesa de Ana Maria Primavesi:

Original

Publicação no jornal