O lançamento foi amplamente divulgado, aproveitando-se do fato de sabermos que o professor Adilson Paschoal não acessa redes sociais. Isto porque planejamos uma surpresa inesquecível: a participação surpresa de Ana Maria Primavesi. Foi uma verdadeira saga conciliar tantos fatores e driblar quaisquer escorregadelas no intuito de fazer o Grande Encontro acontecer. E deu certo. No reencontro dessas duas Lendas da Agroecologia, ou, como disse uma amiga querida, desses dinossauros, fica a imagem da amizade, da idoneidade e luta, mas acima de tudo da união de duas forças impossíveis de serem vencidas: a força de Adilson Paschoal e Ana Maria Primavesi.
Para apresentarmos este pesquisador, reproduzimos abaixo um trechinho da biografia de Ana Primavesi que mostra como foi o primeiro contato deste pesquisador com ela e como Adilson sempre manteve-se firme em suas convicções.
“…Adilson Paschoal ainda não conhecia o trabalho de Ana Primavesi. Em meados de 1980, em uma de suas costumeiras visitas ao Departamento de Solos e Geologia da ESALQ, onde ia em busca de novos conhecimentos sobre solo para a disciplina que há pouco criara, foi convidado a ir à sala de um dos docentes da faculdade, muito seu amigo por sinal, com quem convivera por quatro anos nos Estados Unidos.
Apontando para o canto da mesa, onde um grosso volume se destacava, o amigo perguntou-lhe: ‘Você conhece este livro?’ ‘Pegando-o na mão, percebi tratar-se do ‘Manejo Ecológico do Solo’, de que ainda não tinha conhecimento.’ ‘Você conhece a autora?’- perguntou o professor. ‘Ainda não’, Adilson respondeu. ‘É que estou fazendo a resenha do livro e encontrei vários problemas’, disse ele, passando depois a citá-los. Adilson Paschoal acompanhou com atenção as críticas. Ao sair, pensou: ‘Se ele que é adepto fervoroso da agricultura química disse tudo o que disse, é porque o livro é bom.”
Dias depois, Paschoal foi à Biblioteca Central com o pedido de dois exemplares para serem adquiridos para a instituição. Ao ler o livro, viu a profundidade com que Ana Primavesi analisava o solo, com a visão ecológica que as pessoas não tinham. ‘Aquilo sim era novidade. Eu mesmo, na ‘Ohio State University’, nunca tive nada nesse sentido. O que é analisar o solo sob a perspectiva ecológica? Por exemplo: da ecologia sabe-se que os organismos interagem; então não era só analisar o solo sob os aspectos físico e químico. E a sua biologia? E as interações que ocorrem entre os organismos nele existentes? E as interações do solo com a planta? Tudo estava lá bem explicado, assim como o efeito dos adubos minerais, que desagregavam o solo.
Uma coisa que ela dizia, e que me surpreendeu, foi que a matéria orgânica não humificada adequadamente poderia desestruturar o solo. Isso não se mostrava nos textos convencionais. Aquilo tudo foi-me despertando, porque o meu enfoque era na questão dos agrotóxicos. Apesar de eu já entender haver relação da praga com o solo, não sabia bem como essa relação se dava, mas ela existia, porque a praga ocorria quando o solo era tratado com adubo mineral, principalmente nitrogenado. Foi então, a partir da leitura do livro da Primavesi, que a relação solo/planta/praga começou a formar-se mais claramente em mim.’