Carta de Primavesi- Análise de Solos

Recebendo ( e entendendo) o resultado de uma Análise de solo.

Itaí 2008. Ana escreve um e-mail para um amigo que pede orientações sobre os resultados de uma análise de solos que havia pedido.

“…Recebi seu e-mail sobre as dúvidas sobre Análise do Solo. Aque faz tempo pesquisamos o problema da análise do solo e chegamos às seguintes conclusões:

  1. Nenhuma análise química pode dizer algo sobre a nutrição vegetal se não faz igualmente uma análise física do solo, porque este pode ser agregado, com laje dura ou totalmente compactado, de modo que a raiz da planta pode ou não pode ter condições de chegar aos nutrientes e absorvê-los;
  2. Fora disso, a análise indica por exemplo S mas não diz se está na forma de SO3 (nutriente essencial) ou SH4 (gás tóxico para as plantas). O mesmo vale para todos os cátions, inclusive o N que, em forma de NH4, em maiores quantidades é tóxico para muitas plantas enquanto que em quantidades menores pode até beneficiar a absorção de NO3;
  3. Do Nitrogênio somente 40, no máximo 60% são absorvidos pelas plantas (pode ser que somente 6% sejam aproveitados), o resto é lixiviado, eutrofizando rios, lagos e o lençol freático. Ou, como em solos compactados, ele se perde para o ar em forma de NH4, N2O ou N2 contribuindo para o efeito estufa. Quanto mais N se aplica ao solo, tanto mais ele poluiu a água e a estratosfera. Fora o preço cada vez maior (este ano 80% maior do que em 2007), é também cada vez menos eficiente, provavelmente por causa da deficiência  de Cu fomentado pelo aquecimento climático.
  4. Pelo aquecimento climático aumenta cada vez mais a indisponibilidade de Ca, Cu e B, não adiantando uma adubação no solo, mas somente uma foliar;
  5. A análise foliar somente representa a situação da planta se as folhas colhidas são analisadas dentro de 30 minutos ou se foram transportadas no gelo. Se as folhas forem analisadas 4 a 6 horas após colhidas, não apresentam mais, de maneira alguma, a situação da planta, isso porque as enzimas continuam trabalhando.
  6. Nenhuma adubação tem efeito positivo se faltam os ‘pares’ mais essenciais como por ex. N/CU, P/Zn, K/B, Fe/Cu/Mo, etc. Atua somente o elemento adubado enquanto existe sua contrapartida no solo (por ex. Cu para o nitrogênio amoniacal, Mo para nitrogênio nítrico ou Zn para o fósforo, e etc.);
  7. Nenhum nutriente é benéfico se não existe em equilíbrio com os outros nutrientes. Assim, por ex. Uma grande quantidade de K e muito pouco Boro evita o aproveitamento do K. O mesmo vale para N, P, Ca, Mg e etc.
  8. Da calagem sabe-se hoje que nos trópicos é benéfico no máximo 2,4 t/ha. Acima disso provoca a compactação do solo que fica tanto mais compactado quanto mais calcário  se aplica. (se não acredita, faça um ensaio em vaso);
  9. Os defensivos acrescentam também seu ‘nutriente base’ à planta, provocando seu excesso e portanto induzem a deficiência dos seus pares. Por ex: Maneb (Mn) induz a deficiência de cálcio, Parathion (P) a de zinco, Captan a de cobre etc. Ou de algum elemento que faz par com o Nitrogênio e se encontra em nível baixo.

Portanto, a adubação química depende de muitos fatores e pode ou não levar ao aumento da colheita. Provavelmente o aquecimento do clima e o esgotamento de muitos micronutrientes nos solos agrícolas, em sua maioria compactados e mortos, contribui ao efeito cada vez menor de NPK e a quantidade cada vez maior de doenças vegetais.

            Trabalhamos:

  1. com solos vivos agregados (que exige mais ou menos 8 t/ha/ano de matéria orgânica).
  2. com biodiversidade máxima (rotação de 5 a 6 culturas ou rotação agricultura x pasto, adubação verde com 6 a 7 plantas diferentes, etc.).
  3. com solos protegidos contra: insolação direta (mulch ou vegetação densa), impacto da chuva (idem) e vento (faixas de quebra-ventos).
  4. No caso de hortaliças e de frutíferas: plantio cuidadoso para que a raiz que é plantada para baixo e não para o lado (que levaria ao fracasso da cultura) e, se for o caso, aplicar BORO ao solo para animar as raízes de crescer abundantemente…
  5. Aumentar ao máximo a auto estima do agricultor, onde ele não procura mais conselhos dos outros mas observa, experimenta e faz.

Alguns exemplos: Na região de Casa Branca/SP (perto de Mogi das Cruzes- Pinhal) todos os agricultores se juntaram usando boro e ‘mulch’ (às vezes de composto) na superfície do solo e produzem 2 a 3 vezes mais que qualquer agricultor convencional da região, vendendo seus produtos nas 4 capitais maiores do Brasil com preço abaixo do mercado.

Na Chapada Diamantina, onde viviam os agricultores mais miseráveis, pela obrigação de observar, pensar e experimentar tornaram-se todos prósperos.

Perto de Indaiatuba, no sítio Catavento, com quebra ventos e mulch se produzem 2 a 3 vezes mais do que na região.

Lamento, mas este sistema não é para vender adubos e defensivos, mas para produzir bem e barato.

                                          Com um abraço

                                            Ana Primavesi