Na visão temática-analítica, ainda em uso, o solo é um amontoado de fatores físicos, químicos e biológicos, isolados um do outro e imutáveis. Portanto podem ser modificados para melhorá-los. Mas na realidade o solo é um ecossistema muito complexo e delicado em constante modificação. Sistemas sempre são dinâmicos, compostos de ciclos intimamente interligados. Ciclos naturais percorrem numerosos estágios até chegar ao final e ao mesmo tempo ao início, começando novamente. Da estabilidade dos ciclos depende a sustentabilidade da atividade rural.
O solo tropical é considerado “pobre e lixiviado”, precisando ser fertilizado para dar rendimentos lucrativos. Na realidade, o solo é um ecossistema adaptado exatamente ao clima tropical e às necessidades fisiológicas das plantas. Portanto, ele tem de ser pobre por unidade (dm3) mas com um perfil profundo e bem agregado para permitir a exploração de um grande volume de solo pela raiz vegetal. Sabe-se que com os nutrientes distribuídos a um volume 4 vezes maior, a planta produz o dobro. Importante para um solo sadio é uma VIDA, ou BIOCENOSE ativa.
As plantas recebem água e nutrientes do solo, fornecendo em troca matéria orgânica morta e excreções radiculares que alimentam a vida do solo. Esta, por sua vez, na decomposição produz agregantes como ácidos poliurônicos que permitem a formação de poros no solo por onde entra ar e água. Mas estes ácidos poliurônicos também são o alimento principal de fixadores de nitrogênio livres, enriquecendo o solo com nitrogênio. Como a matéria orgânica é o alimento da maior parte da vida do solo, sua diversificação é importante. Em monoculturas se beneficiam somente poucas espécies. Portanto, a rotação de culturas com 4 ou 5 espécies é importante para manter a vida diversificada e prevenir pragas e doenças.
A vida do solo é benéfica ao solo e às culturas. Um solo sadio é bem agregado, com grumos estáveis ao impacto da chuva para garantir a porosidade superficial onde entra ar e água. Tem uma camada porosa na superfície que não pode ser revolvida pela aração mas mantida na superfície, como na lavração mínima e plantio direto (PD).
Como os “bio agregados” conservam sua estabilidade por aproximadamente 3 meses à força cinética da chuva, eles têm de ser renovados periodicamente. Isto é, a matéria orgânica que sobre da colheita, como restolhos e palha, têm de voltar ao solo e não podem ser queimadas.
Durante o espaço de tempo em que os agregados são instáveis e a cultura ainda está no campo, o solo tem de ser protegido por uma canada de palha, como no PD ou por um plantio adensado, evitando igualmente seu superaquecimento (acima de 32 graus). Para conservar a umidade e o gás carbônico que sai do solo, necessita-se de proteção contra o vento. Na “sombra do vento”, ou seja, onde o vento não varre livremente, as colheitas muitas vezes dobram e em casos extremos podem ser até cinco vezes maiores do que sem proteção.
Um solo sadio é produtivo. Conforme a variedade, pode necessitar a adição de fertilizantes. Neste caso, “produtivo” não é a quantidade de insumos aplicados, como entendido oficialmente, mas as condições favoráveis do solo para o crescimento das plantas.