Segundo o leigo, o mar é um pote enorme repleto de peixes. Não importa que algumas espécies já tenham sido exterminadas pela pesca predatória, especialmente com radar. Ainda restam muitos.

Infelizmente a realidade é bem outra. O mar constitui um deserto aquático enorme, existindo peixes somente nas águas das plataformas marinhas, ou seja, perto da costa, até 300km (200 milhas) aproximadamente. A vida do mar depende da terra. Peixes necessitam de minerais e matéria orgânica, levados da terra firme, trazidos pelos rios e transformados pelo plâncton. Esses seres minúsculos se nutrem com o que vem da terra, dependendo do movimento da água marinha, suas correntezas. Sem plâncton não há produção de oxigênio pelo mar, que é a base da vida dos peixes e também dos homens. Se, porém, a terra for destruída  e quando os rios, em lugar de água cristalina, transportarem esgotos das cidades, agrotóxicos das lavouras e dejetos de fábricas, nem o plâncton nem os peixes encontrarão mais seu sustento.

Por que será que todos brigam pela pesca nas águas costeiras do Brasil, especialmente no estuário do Amazonas? Por que na costa egípcia quase não há mais peixes desde que a represa de Assuã fechou suas comportas retendo as argilas férteis trazidas pelo Nilo Azul da Etiópia? Porque cessaram as enchentes que matavam as pragas e adubavam as terras, trazendo bem estar aos agricultores. Os habitantes da região dependem agora da irrigação e adubação química e os anos gordos do Egito terminaram, como na época de José, o egípcio da bíblia, quando o rei Menelik II represou o Nilo Azul. Porém, a riqueza dos “raz”, seus príncipes, tornou-os tão ingovernáveis que que resolveu destruir novamente esta represa acabando com a riqueza da Etiópia mas restituindo a do Egito.

Por que os peixes na costa da França, Holanda e Inglaterra apresentam deformações cancerosas enquanto a população ictiológica (dos peixes) está diminuindo? A agricultura convencional não mantém os solos e muito menos as águas e seus habitantes.

Também não é raro que os peixes se tornem tóxicos para os consumidores. Apesar de tudo, já existem fazendas marítimas onde os donos inspecionam seus “rebanhos”, os cardumes de peixes, em lanchas de motor em lugar de cavalos e jipes. Mesmo assim, a verdade é que o mar está morrendo juntamente com a terra. Talvez essa morte seja mais preocupante, não por causa dos peixes mas por causa do plâncton e sua produção de oxigênio. Se o mar morrer, toda a vida terrestre se acabará também, com toda a sua indústria, com sua tecnologia de ponta, sua acumulação de capital, seu luxo e sua miséria.