Não é dos elefantes ou dos rinocerontes que depende nossa vida

Não é dos elefantes ou dos rinocerontes que depende nossa vida, mas de micróbios, que vivem invisíveis a olho nu no solo.

Solo não é somente um substrato de rochas intemperizado mas um “organismo vivo” que precisa de alimento como qualquer outro ser vivo. Ele respira, tem sua temperatura própria e até expira gás carbônico.

Apenas a palavra “organismo” tem um sentido mais amplo. Conhecem-se os vertebrados nos quais todo corpo é ordenado ao longo de uma espinha. Por outro lado, conhecem-se organismos nos quais somente existe um centro nervoso comuns e nos quais o “corpo” é formado por milhares e centenas de milhares de seres individuais como nos cupins. Mas se a rainha morrer, todos os cupins do mesmo povo morrem dentro de 24 horas. Falta a “cabeça” e eles não sabem mais o que fazer, nem sequer alimentar-se eles conseguem.

No solo, o sistema ainda é mais aberto. Não há centro nervoso comum e sim uma interligação íntima entre parte mineral e a vida do solo. Bilhões e quatrilhões de seres vivos estritamente programados pela natureza formam isso que nós conhecemos como solo. Em cada colherzinha de terra encontram-se até 10 milhões de seres vivos. Não perfazem mais do que 1,2% do peso, mas deles dependem a produtividade ou a desertificação dos solos. Eles decompõem, mas nessa decomposição reside o início de uma nova vida, e eles mesmos vivem disso.

Enquanto a planta compõe, edifica, constrói, a micro vida decompõe, destrói, para que aquilo que é imprestável para a vida seja reciclado novamente para gás carbônico, água e energia, de que foi formado. É o ciclo da vida. Os minerais contidos nas plantas voltam a ser minerais, fazendo novamente parte do solo. Na hileia amazônica, esse ciclo rapidíssimo conseguiu deixar crescer árvores gigantescas num solo paupérrimo graças a essa decomposição, essa reciclagem.

A natureza cuida do solo e protege-o com três camadas: arbórea, vegetação baixa e a camada de folhas mortas do chão, para evitar que a chuva bata na superfície, destruindo os poros por onde tem de entrar ar e água. Protege-o contra o sol para que a vida não se desidrate e morra porque não tem proteção contra a seca. As bactérias nem possuem uma pele, sendo somente a tensão externa dessa minúscula gotícula que a mantém intacta. E como também não possuem nem boca, nem tromba, nem orifício algum pelo qual pudessem comer, excretam uma enzima quando sentem que o substrato em que se encontram poderia ser digerido por sua enzima. Depois, absorvem a comida digerida fora de seu corpo.

Também não podem excretar seu lixo metabólico se não existir nada que o possa aproveitar. Tem de existir outro microrganismo que o use para alimento ou alguma substância química que o ligue. Caso contrário, iriam morrer em meio a seus próprios excrementos. Esse sistema se chama donnor-aceptor e não é nada mais, nada menos, que nosso sistema de mercado de oferta e procura. Não se pode ofertar o que ninguém procura. É a vida do solo tão minúscula e invisível mas tão grandes são os seus efeitos. Dos microrganismos dependem erosão e enchentes, porque são os responsáveis pela infiltração da água no solo. Deles depende a falta de água potável, cada vez mais pronunciada em nosso mundo. De sua ausência depende a desertificação.

Não é dos elefantes ou dos rinocerontes que depende nossa vida, mas de micróbios, que vivem invisíveis a olho nu no solo.