“… Os porquês de Ana merecem um capítulo à parte: tinham uma lógica simples, tão simples, que muitas vezes as coisas que ela dizia pareciam ser receitas caseiras (o que, de certa forma, não deixavam de ser): O gado estava derrubando a cerca? Falta de cobre. Novilhas ariscas, que quebram cercas, ou gado zebu muito nervoso: deficiência de magnésio. A falta de cobalto levava a alguns sintomas: os animais (vacas, cabras, coelhos) roíam cascas de árvores, ou os bezerros ficavam tristes (ela observava isso pela cauda), com pelos eriçados, e morriam de inanição. Essa deficiência também levava as vacas a tremores musculares…
Potros e bezerros morrem poucos dias depois do nascimento, fracos, apesar de terem nascidos grandes? Deficiência de iodo. A falta de cloro leva as vacas à morte depois da parição, ou a deficiência de cálcio em capim rico em ácido oxálico faz com que as vacas fiquem com a cara inchada. Porcos com eczemas, falta de zinco.
Ovelhas com lã muito grossa, pouco ondulada, e que da cor preta passa para a ruiva, além de aproximadamente 20% dos cordeirinhos nascerem com as patinhas traseiras paralíticas, também é deficiência de cobre. Frangos e coelhos com ossos deformados, pernas curvas, ou porcos com excesso de gordura, com abortos frequentes, falta de manganês. Se o gado tem apetite depravado e come de tudo (plásticos, chapéus, ossos), significa que está com “mal de paleta”, com cio irregular. Isso se corrige com fósforo, dizia ela.
Simples? Só para ela. Ana Primavesi começa a encantar plateias, formadas por pessoas interessadas em desvendar os segredos da natureza, fossem eles agrônomos, agricultores ou simplesmente cidadãos interessados em aprender. Com voz baixa e delicada, e uma maneira didática, quase infantil de explicar o que para a maioria das pessoas era muito complicado, Ana não só explicava, como reeducava as pessoas. “Por que tem enchente? Porque a água não penetra, portanto seu solo está duro. Por que tem tanto cupim? Porque o cupim sabe que em solo compactado a água não penetra, então ele pode construir seus túneis e ninhos à vontade, pois nenhuma chuva vai fazê-los desmoronar. Cuide de seu solo e o cupim vai embora sozinho.”
Acostumadas com os “como”, as pessoas eram estimuladas a repensar sua prática, buscando as causas, atuando na raiz do problema. O como, ou seja, a providência a ser tomada, antecedido pelo por que, levava à solução definitiva, pois o processo era desvendado.”
(trecho do livro “Ana Maria Primavesi – histórias de vida e agroecologia”. Ed Expressão Popular, 2016)
Algumas informações de Ana Primavesi sobre o Cobre:
Cobre – Cu
Torna-se sempre deficiente quando aplicamos um excesso de húmus ao solo e pode-se ter como regra que “quanto mais húmus existir, tanto mais cobre será necessário à planta.” Isto é facilmente explicável porque o nitrogênio-cobre é um “compound” em que esses dois elementos atuam como antípodas (opostos). O cobre é o componente que dá firmeza à planta. Sabendo-se que o nitrogênio provoca um aumento considerável no tamanho das células forçando o crescimento da planta, o cobre parece tanto mais valioso porque a planta não poderia permanecer ereta e vigorosa sem este elemento. Apesar disso, a solução de cobre para curar as consequências de sua carência não precisa superar mais ou menos 10g de cobre para 600 litros de água.