Tratando pastos – o papel do NPK

Tratando pastos – o papel do NPK

Adubamos a pastagem tendo em vista o maior rendimento animal e não o maior rendimento vegetal. Uma adubação de NPK (nitrogênio – fósforo – potássio) pode aumentar a produção vegetal e animal, mas sempre acarretará problemas de ordem fisiológica, porque desequilibra infalivelmente muitos outros minerais (24 são os minerais que se conhecem como essenciais para o crescimento vegetal e animal), que não precisam ser ligados em compostos insolúveis, mas cuja proporção fica alterada pela aplicação de um elemento e não a aplicação dos outros.

 Assim, uma feijoada não é mais a mesma após juntar 5 litros de água. Possui a mesma quantidade de carne e feijão, mas o gosto e valor nutritivo é muito inferior. Falamos, pois, de um efeito de diluição. Após estabelecido o rodízio, o teor em cálcio deve ser verificado. Antes de adubar deve ser feita uma calagem para corrigir a falta de cálcio, constatada pela análise. O potássio não é absorvido pela planta se não existir o suficiente em cálcio no solo e o fósforo não faz efeito se sua relação com o cálcio não for de 1:2 a 1:3. Geralmente, a calagem não dá uma resposta imediata, sendo o efeito residual muito mais pronunciado que o efeito da calagem, no primeiro ano.

O solo não sendo muito ácido, farinha de ossos, fosfato de Olinda ou escória de Thomas resolvem o problema de cálcio e fósforo ao mesmo tempo. O fósforo é facilmente ligado ao alumínio e ferro, especialmente em solos muito compactos pelo pisoteio e pobres em matéria orgânica. Portanto, a adubação fosfatada só pode surtir efeito se o alumínio é controlado pelo arejamento do solo e a adição de matéria orgânica, que se consegue pelo rodízio.

A calagem não somente mobiliza o solo quimicamente, mas também biologicamente. Nos solos muito ácidos, como nos de Vacaria, a matéria orgânica acumula-se na superfície do solo pastoril inutilmente, prejudicando-o com seus ácidos muito solúveis que, agindo como solvente, ajudam a lavar os minerais do solo. O que falta nestes solos são os inúmeros animaizinhos quase invisíveis, que misturam a matéria orgânica morta com o solo, fazendo-a útil  à nutrição vegetal. Assim, EVANS diz, na Austrália: “quantos quilos de minhocas o solo pastoril contiver, tantos quilos de ovelhas ele poderá nutrir, e quanto mais diversificada a população de animaizinhos terrícolas, tanto mais valiosa a pastagem.”

O fósforo é um nutriente todo especial. Não somente aumenta como também regula a fertilidade dos animais. Ajuda a sintetizar todos os aminoácidos necessários ao rápido desenvolvimento animal. Não é suficiente dar somente farinha de ossos ao animal que vive em pastagem deficiente em fósforo, porque esta não consegue suprir o animal de aminoácidos essenciais. A adubação pastoril com fósforo é, assim, uma das medidas básicas para aumentar o rendimento animal, porém, deve se ter o cuidado de não o aplicar em doses maciças, porque podem desequilibrar os outros minerais, nem em formas muito solúveis, como superfosfato.

Festuca ovina, barba-de-bode (Aristida pallens), treme-treme (Briza minor e Briza stricta), capim-de-cheiro (Anthoxantum odoratum), Agrostis vulgaris, Calamagrostis armata, capim-sereno (Eragrostis neesi) são todas gramíneas que indicam a falta de fósforo e que desaparecem após uma aplicação bem sucedida deste elemento. O trevo-subterrâneo e o trevo-ladino facilmente padecem de deficiência de fósforo e produzem neste estado muito estrogênio, um hormônio sexual que provoca anomalias no útero, tornando o gado praticamente estéril, e de outro lado provoca anomalias sexuais nos machos.

O fósforo pode aumentar até 8 vezes a produção vegetal e a animal, até 10 vezes. A maioria dos problemas de fertilidade dos animais é devida à deficiência de fósforo.

O potássio é um dos elementos mais necessários para tornar as plants resistentes à seca, às geadas e às pestes. Em capineiras ceifadas, o potássio vai se esgotando muito depressa. Assim, em invernadas de leguminosas, dá-se, concomitantemente, a invasão de gramíneas, como ocorre, por exemplo, com os alfafais, podendo a vida destes, todavia, ser prolongada pela adição sistemática de adubo potássico. A falta deste mineral determina, geralmente, nas pastagens ceifadas, zonas carenciais, com vegetação escassa, denominadas “manchas de fome”, o que, aliás, não ocorre tão facilmente em pastagens comuns, nos quais se verifica muito menor deficiência de potássio, pois a planta  nova colhida pelo animal é pobre neste elemento. Em pastos nativos, a adubação com potássio requer, portanto, especial controle, a fim de evitar a “vertigem do pasto”, proveniente do excesso do elemento em questão. Em campos de trigo adubados e posteriormente gramados para pastagens, o excesso de potássio pode ocorrer. Havendo, comprovadamente, falta de fósforo – potássio, a adubação com esses minerais é preconizada como uma das primeiras medidas para melhorar o rendimento, tanto vegetal como animal da pastagem.

As plantas que indicam a deficiência ou o desequilíbrio de potássio com o magnésio são as compostas, tais como a maria-mole (Senecio sp), carqueja (Baccharis sp), mio-mio (Baccharis coridifolia), ainda as gramíneas como barba-de-bode, cabelo-de-porco, titirica (Cyperus sp), cola-de-zorro (Andropogon sp), capim-da-roça (paspalum urvillei), etc. Deve-se, porém, ter sempre em mente que a adubação potássica não melhora essas plantas, mas fá-las desaparecer.

O nitrogênio é o elemento cuja aplicação é a mais sedutora, porque logo em seguida provoca um luxuriante desenvolvimento vegetal. Porém, é igualmente o adubo mais perigoso em pastagens nativas, porque faz com que fiquem mais suscetíveis à seca, e quanto ao animal, mais suscetível à verminose.

A adubação com sulfato de amônio deve ser evitada porque destrói a vida de animais terrícolas benéficos ao solo e com isso estraga-o. Só faz efeito se há suficiente fósforo no solo.

Não se deve fazer nenhuma adubação com nitrogênio em pastagens nas quais não se faz o rodízio rigorosamente organizado, porque assim procedendo, estar-se-ia contribuindo para o extremo inçamento do pasto e expondo-o ao risco da intoxicação por fungos.

O nitrogênio (melhor salitre do Chile, salitre potássico, nitrofosfato, nitrocal ou ureia) deve ser aplicado cedo, na primavera, para provocar a brotação adiantada do pasto. Assim, logo se disporá de pastagem nova. Deve esta, porém, ser pastada em superlotação, até ficar baixa. Alivia-se o pasto, retirando o gado, que retorna de novo a pastar quando a vegetação atingir uns 8 cm. Este processo deve repetir-se tantas vezes quantas forem necessárias até que o excesso de nitrogênio no solo esteja terminado.

Não havendo controle rigoroso, a adubação nitrogenada é bastante arriscada, porque a vegetação exuberante e de crescimento rápido facilita o desenvolvimento de fungos nas partes mais baixas das plantas, especialmente quando estas acabam devido à uma chuva pesada. Estes fungos atacam as plantas e produzem substâncias tóxicas muito maléficas aos animais, podendo até mata-los.

Isso acontece, também, em pastagens ricas, e nisto baseia-se a crença segundo a qual não é possível mudar o gado do seu potreiro. Mas assim acontece, justamente, por causa da forragem alta, atacada por fungos que a envenenam. Pastagens sob regime de pastoreio gastam muito mais nitrogênio que capineiras ceifadas, esgotando facilmente este elemento. Uma adubação módica, bem controlada, é necessária para manter a produção do pasto.

Normalmente, o enriquecimento do solo com nitrogênio deve ser feito pela implantação de leguminosas, em pastagens sob regime de rodízio e em bom estado quanto ao cálcio e ao fósforo. Sem rodízio não adianta programar a implantação de leguminosas, e com rodízio muitas vezes se dispensa, porque surgem por si mesmas. As leguminosas enriquecem igualmente a forragem em proteínas.

A leguminosa para a implantação deve ser inoculada, misturando-se ao inoculante, por saco de semente, 500g de FTE ( elementos menores) e 1 Kg de farinha de ossos. Para isso, molha-se primeiro a semente com uma solução diluída de goma arábica e polvilha-se, em seguida, com o inoculante e os adubos. Deixando secar a semente em lugar fresco, protegida do sol, pode-se plantá-la com a renovadora de pastagem. Convém, contudo, adubar na semeadura, com 120 kg de farinha de ossos. Se a estrutura do solo estiver boa, a implantação mais conveniente é a lanço ( à mão, à máquina ou por avião), incorporando a semente à pata do gado.

É importante deixar bem instalada a leguminosa antes de permitir ao gado pastar. Assim, por exemplo, a soja-perene ou o cornichão levam 1 ano até que a sua instalação definitiva esteja assegurada.

A implantação de leguminosa deve ser muito bem estudada pois não adianta querer implantar espécies dessa família botânica:

  1. que não sejam apropriadas à zona;
  2. quando o solo não for próprio para elas;
  3. enquanto não houver rodízio de pastoreio.

Não se trata de aumentar de qualquer maneira a produção, mas de aumentá-la economicamente. De modo que é possível implantar uma ou outra forrageira por força de adubações maciças, mas na prática pecuária isso é destituído de significação.

A implantação da leguminosa é geralmente dispensada em pastagens bem manejadas.