O Manejo do Pastejo e o caso dos animais que perdiam os dentes

O problema que se impõe é: o que fazer para conseguir pastagens boas e diversificadas para os animais e em todas as épocas do ano?

Em épocas de grande desenvolvimento vegetal, como na primavera, muita forragem sobra, apesar de 40 a 50% da pastagem ser desperdiçada pelos animais.

Geralmente ouve-se dizer: “Nossas pastagens não podem ser destruídas pelo pastoreio porque temos sublotação”.

O que é sublotação?

Há poucos animais por hectare ou por quadra, demasiadamente poucos para poder terminar com a forragem luxuriante da primavera. Os animais selecionam as plantas melhores e desprezam as mais fibrosas, desperdiçando muita forragem mas, mesmo assim, não vencem a vegetação. A forragem boa desaparece pouco a pouco porque é sempre procurada pelo gado. No verão, o gado fica mergulhado até a barriga na forragem velha, dura, fibrosa e pouco nutritiva. Não falta volume para encher a pança, mas o valor nutritivo é baixo. O gado não engorda, exemplo típico temos nas zonas das Missões com suas pastagens de cola-de-zorro.

A relva afrouxa e o campo inça com plantas de multiplicação rápida, por sementes, e acumula-se uma camada de húmus fresco na superfície. Assim, encontramos nestas zonas de 8 a 10% de matéria orgânica, depositada na superfície que, contudo, não melhora o solo porque é tão pobre e ácida que as bactérias não a querem decompor e só os fungos o fazem, e muito lentamente. A zona de Vacaria é um exemplo típico. O húmus ácido na superfície não tem valor e é até prejudicial.

“Rodízio de pastejo” não podemos fazer, porque o gado morre ao mudar de potreiro (invernada). De fato, em épocas úmidas, a forragem alta é tomada por fungos especialmente Basidiomicetos e Aspergillus fumigatus, que formam subprodutos venenosos como ácido oxálico, tóxicos para o gado. Se a forragem não fosse tão alta, os fungos não encontrariam condições de desenvolvimento.

A pastagem é grosseira, suja e pobre porque o húmus ácido não a melhora, mas ajuda a lixiviá-la. Infalivelmente, na primavera se queimam os restos da pastagem antiga, matando os vestígios de microflora e animaizinhos que podiam ter se assentados durante o ano. O solo seca, compacta e torna-se cada vez mais inóspito para forrageiras melhores. É o ciclo vicioso da sublotação.

O contrário encontramos na zona colonial. Em propriedades pequenas, se mantém muitos animais, muito mais do que é suportado pela pastagem. Temos, pois, a superlotação.

O gado rapa os lugares onde existem forrageiras mais palatáveis, os quais ficam desnudados, assentando-se aí inços ou gramíneas grosseiras. A vegetação que sempre é mantida o mais baixo possível não consegue formar um bom sistema radicular porque, via de regra, a raiz penetra tanto mais profundo quanto mais alto cresce o vegetal.

Nessas pastagens, as raízes penetram tão somente 3 centímetros abaixo da superfície. O solo é compacto e basta qualquer seca para queimar a vegetação, que fica confinada à superfície. A erosão se instala onde o terreno é inclinado. Não é raro os animais ingerirem plantas venenosas, ávidos de tudo que é verde  ou é suculento, havendo muita perda de gado por intoxicação. O índice de verminose é impressionante e vimos propriedades onde os animais com 6 anos ainda pesavam cerca de 280 kg.

A fertilidade é péssima e não ultrapassa os 30%, a cria não desenvolve, isto quando consegue sobreviver. Fomos chamados a uma propriedade onde “os animais perdiam os dentes com dois anos”. Mas o caso não era simplesmente perder os dentes, mas sim raspar tanto os dentes no chão a ponto de ficarem completamente gastos.

É evidente que está errado o modo de manejar o pastoreio.

Na fronteira, onde em muitas fazendas há notória superlotação com ovinos, as pastagens são extremamente sujeitas à seca por ter a vegetação pastoril 80% das raízes somente nos 3 centímetros superiores do solo.

Exames mostraram que o solo é compacto, sem estrutura e com péssima capacidade de reter a água. As raízes, todas superficiais, sofrem em seguida com a seca, provocando a morte da parte vegetativa.

Um fazendeiro em Alegrete, que deixou um potreiro sem gado porque nele queria por um lote  de rezes importadas, notou, para sua grande surpresa, que este potreiro não secou no verão, apesar de seu solo ser muito raso. Talvez aqui coubesse o ditado: “pasto ceifado não seca”. Por quê? Muito simples, o pasto não pastado precisa ficar alto para ser ceifado. Este consegue desenvolver melhor suas raízes, as quais não somente afrouxam o solo e aumentam sua capacidade de retenção da água, mas também conseguem abastecer-se em zonas mais profundas do solo onde ainda existe água, quando a superfície já secou.

Também a evaporação de um solo com vegetação alta é menor, visto não receber a insolação direta. Assim, aquece muito menos. Em dia de calor, ao pisar-se neste solo, sente-se sua frescura enquanto numa pastagem curta a terra torna-se muito mais quente. A vegetação com raízes mais profundas é melhor nutrida e transpira menos. Plantas pobres e mal nutridas têm em suas células uma seiva aguada, vazia, que facilmente se evapora, enquanto as bem nutridas têm um plasma grosso e viscoso que não é tão facilmente evaporado e que resiste ao calor. Plantas bem nutridas gastam a metade e até um quarto da água consumida pelas plantas mal nutridas.